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SÃO PAULO – Médicos anunciam que paciente com HIV está livre da infecção graças a um complexo tratamento que incluiu o transplante de células tronco resistentes ao vírus.
O americano Timothy Ray Brown, que mora na Alemanha, está sendo chamado de “paciente de Berlim” após passar três anos livre do vírus causador da AIDS em seu corpo.
Seu caso raro é resultado de uma série de coincidências que o levaram a ser submetido a diversos procedimentos. Em 2007, Brown, que era soropositivo, foi diagnosticado com leucemia e recebeu, pela equipe do Dr Gero Hütter, da Universidade Médica de Berlim, um transplante de medula.
O material doado, no entanto, possuía uma particularidade: ele vinha de um indivíduo que tinha uma resistência natural ao HIV. Geneticamente, o doador não possuía em suas células um receptor chamado CCR5. Acontece que a variedade mais comum de HIV usa justamente o CCR5 como “estação” para se ligar e atacar as células brancas CD4, um tipo de célula do sistema imunológico. Como todo vírus, o HIV não é capaz de se reproduzir sozinho: ele usa o material genético de um indivíduo (no caso, das células brancas) para se replicar. Assim, as pessoas com essa mutação estão praticamente a salvo da infecção. Apesar de ser a porta de entrada, a CCR5 não é o único caminho: com o tempo, durante a infecção, surgem outros tipos de vírus que podem usar outros receptores, como o CXCR4.
O caso de Brown foi apresentado pela primeira vez em 2008, em Boston, durante a Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas. Em fevereiro de 2009, os resultados foram publicados no New England Journal of Medicine. Agora, um novo trabalho foi publicado na revista Blood, argumentando que, baseado em uma série de testes, “é possível concluir que a cura da infecção por HIV foi alcançada neste paciente”.
Quimioterapia, imunossupressores, antiretrovirais e células tronco
O caminho para a cura, no entanto, não foi fácil. Após o transplante de medula em 2007, Brown teve uma recaída e precisou do transplante de células tronco.
Estas células foram selecionadas de um indivíduo que possuía um perfil genético diferente: uma mutação herdada de seus dois pais que resultava em células CD4 que careciam dos receptores CCR5.
Antes do transplante, o paciente recebeu quimioterapia, que destruiu a maioria das células de seu sistema imunológico. Ele também recebeu drogas imunossupressoras para prevenir a rejeição. No dia do transplante, Brown interrompeu a terapia antiretroviral – ou seja, parou de tomar os coquetéis contra HIV. 13 dias após o 1º transplante de células tronco, ele precisou receber um segundo transplante, devido a complicações.
Nos 38 meses que se seguiram, o paciente de Berlim continuou recebendo tratamento imunossupressor para prevenir rejeições. Nos meses 5, 24 e 29 foram feitos testes para verificar a presença do HIV nas células da parede intestinal. O que os pesquisadores notaram é que as células CD4 novas, feitas a partir do material genético das células tronco do doador, passaram a substituir as antigas células CD4 do paciente.
Decorridos 17 meses do transplante, o paciente desenvolveu uma condição neurológica que exigiu uma biópsia no cérebro e a retirada de amostras do fluído da espinha. Em nenhum destes materiais foi encontrado vestígio do HIV.
Há ainda mais uma indicação de que o vírus não estava mais presente em Brown. Após o transplante, todas as suas células CD4 tinham as características de seu doador, e não apresentavam o receptor CCR5. No entanto, mesmo estas “novas células”, produzidas após o transplante, continuam suscetíveis a infecções por meio do receptor CXCR4. Assim, qualquer vírus capaz de entrar por esta “porta” já teria se replicado – o que não aconteceu.
Cura?
Um dos desafios no tratamento do HIV é justamente o fato de o vírus atacar as células do sistema imunológico, que vivem relativamente muito tempo. Para curar alguém, seria preciso retirar todas essas células de um paciente. Acontece que as células brancas protegem o corpo de infecções, câncer e outras doenças. Sem elas, ficamos desprotegidos – o que, aliás, é a causa da morte dos pacientes que desenvolvem AIDS. O HIV ataca as células do sistema imunológico e o paciente acaba morrendo das chamadas doenças oportunistas – que só se desenvolvem porque o organismo está muito fraco para combatê-las.
No caso do paciente de Berlim, as células com o receptor CCR5 (ou seja, as células que ele possuía antes do transplante) não foram detectadas 38 meses após o tratamento. Isso sugere que a quimioterapia as destruiu, e que elas forma substituídas pelas células CD4 com material do doador.
Outro fato importante: o paciente não retomou a terapia antiretroviral. Ainda assim, mesmo sem os coquetéis, o HIV não foi detectado em suas células.
O caso de Timothy Brown aponta a engenharia genética e as células tronco como novos caminhos para a cura do HIV. Pode-se, por exemplo, pensar em material elaborado em laboratório para se adequar as condições de cada paciente, o que eliminaria a necessidade e o desgaste de encontrar um doador compatível.
Ainda assim, a cura do paciente de Berlim não veio de forma fácil. Quimioterapia, imunossupressores e um transplante de células tronco são etapas muito pesadas e desgastantes. Elas apontam um caminho, mas não podem, do jeito que foram feitas, ser consideradas uma solução.
O americano Timothy Ray Brown, que mora na Alemanha, está sendo chamado de “paciente de Berlim” após passar três anos livre do vírus causador da AIDS em seu corpo.
Seu caso raro é resultado de uma série de coincidências que o levaram a ser submetido a diversos procedimentos. Em 2007, Brown, que era soropositivo, foi diagnosticado com leucemia e recebeu, pela equipe do Dr Gero Hütter, da Universidade Médica de Berlim, um transplante de medula.
O material doado, no entanto, possuía uma particularidade: ele vinha de um indivíduo que tinha uma resistência natural ao HIV. Geneticamente, o doador não possuía em suas células um receptor chamado CCR5. Acontece que a variedade mais comum de HIV usa justamente o CCR5 como “estação” para se ligar e atacar as células brancas CD4, um tipo de célula do sistema imunológico. Como todo vírus, o HIV não é capaz de se reproduzir sozinho: ele usa o material genético de um indivíduo (no caso, das células brancas) para se replicar. Assim, as pessoas com essa mutação estão praticamente a salvo da infecção. Apesar de ser a porta de entrada, a CCR5 não é o único caminho: com o tempo, durante a infecção, surgem outros tipos de vírus que podem usar outros receptores, como o CXCR4.
O caso de Brown foi apresentado pela primeira vez em 2008, em Boston, durante a Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas. Em fevereiro de 2009, os resultados foram publicados no New England Journal of Medicine. Agora, um novo trabalho foi publicado na revista Blood, argumentando que, baseado em uma série de testes, “é possível concluir que a cura da infecção por HIV foi alcançada neste paciente”.
Quimioterapia, imunossupressores, antiretrovirais e células tronco
O caminho para a cura, no entanto, não foi fácil. Após o transplante de medula em 2007, Brown teve uma recaída e precisou do transplante de células tronco.
Estas células foram selecionadas de um indivíduo que possuía um perfil genético diferente: uma mutação herdada de seus dois pais que resultava em células CD4 que careciam dos receptores CCR5.
Antes do transplante, o paciente recebeu quimioterapia, que destruiu a maioria das células de seu sistema imunológico. Ele também recebeu drogas imunossupressoras para prevenir a rejeição. No dia do transplante, Brown interrompeu a terapia antiretroviral – ou seja, parou de tomar os coquetéis contra HIV. 13 dias após o 1º transplante de células tronco, ele precisou receber um segundo transplante, devido a complicações.
Nos 38 meses que se seguiram, o paciente de Berlim continuou recebendo tratamento imunossupressor para prevenir rejeições. Nos meses 5, 24 e 29 foram feitos testes para verificar a presença do HIV nas células da parede intestinal. O que os pesquisadores notaram é que as células CD4 novas, feitas a partir do material genético das células tronco do doador, passaram a substituir as antigas células CD4 do paciente.
Decorridos 17 meses do transplante, o paciente desenvolveu uma condição neurológica que exigiu uma biópsia no cérebro e a retirada de amostras do fluído da espinha. Em nenhum destes materiais foi encontrado vestígio do HIV.
Há ainda mais uma indicação de que o vírus não estava mais presente em Brown. Após o transplante, todas as suas células CD4 tinham as características de seu doador, e não apresentavam o receptor CCR5. No entanto, mesmo estas “novas células”, produzidas após o transplante, continuam suscetíveis a infecções por meio do receptor CXCR4. Assim, qualquer vírus capaz de entrar por esta “porta” já teria se replicado – o que não aconteceu.
Cura?
Um dos desafios no tratamento do HIV é justamente o fato de o vírus atacar as células do sistema imunológico, que vivem relativamente muito tempo. Para curar alguém, seria preciso retirar todas essas células de um paciente. Acontece que as células brancas protegem o corpo de infecções, câncer e outras doenças. Sem elas, ficamos desprotegidos – o que, aliás, é a causa da morte dos pacientes que desenvolvem AIDS. O HIV ataca as células do sistema imunológico e o paciente acaba morrendo das chamadas doenças oportunistas – que só se desenvolvem porque o organismo está muito fraco para combatê-las.
No caso do paciente de Berlim, as células com o receptor CCR5 (ou seja, as células que ele possuía antes do transplante) não foram detectadas 38 meses após o tratamento. Isso sugere que a quimioterapia as destruiu, e que elas forma substituídas pelas células CD4 com material do doador.
Outro fato importante: o paciente não retomou a terapia antiretroviral. Ainda assim, mesmo sem os coquetéis, o HIV não foi detectado em suas células.
O caso de Timothy Brown aponta a engenharia genética e as células tronco como novos caminhos para a cura do HIV. Pode-se, por exemplo, pensar em material elaborado em laboratório para se adequar as condições de cada paciente, o que eliminaria a necessidade e o desgaste de encontrar um doador compatível.
Ainda assim, a cura do paciente de Berlim não veio de forma fácil. Quimioterapia, imunossupressores e um transplante de células tronco são etapas muito pesadas e desgastantes. Elas apontam um caminho, mas não podem, do jeito que foram feitas, ser consideradas uma solução.
fonte: info.abril.com.br/noticias/ciencia/celulas-tronco-teriam-curado-paciente-com-hiv-15122010-31.shl?2
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