Prezada Cíntia,
Você me pediu para explicar porque sou a favor do desmembramento do Pará. Vou tentar passar os meus sentimentos e o de mais de 1,5 milhões de habitantes desta região.
O Pará é um estado de rico em minerais, porém pobre de natureza, não por natureza. Não queremos a divisão, só pelo simples fato de dividir. Imagine você, da capital – Belém - para o extremo sul do estado, Conceição do Araguaia, são 1.050 quilômetros de péssimas estradas. É mais perto você ir de Belo Horizonte a Curitiba ou ir de Paris a Roma.
Mas, não é só isso, você conheceu Santarém. Para chegar a cidade só de avião ou de barco porque a rodovia Cuiabá - Santarém aguarda a chegada do asfalto há 35 anos. Isto, Cíntia, é pura falta de governo e de representação política. O que teremos com a criação dos dois estados: Tapajós e Carajás.
Vou te passar mais alguns dados, mas não caia da cadeira quando for ler. Vou dar exemplos de Carajás que servem também para o Tapajós é porque conheço mais a região do Carajás.
Das dez cidades mais violentas do Brasil, seis estão no futuro estado do Carajás: Itupiranga, a 50 km de Marabá, é o município onde são cometidos o maior número de assassinatos no Brasil. Marabá é o município onde morrem a maior quantidade de adolescentes assassinados no país. Sabe por quê? Falta de polícia e lógico, falta de estado. Na capital Belém existe 1 policial para 107 habitantes. Aqui, na região sudeste – 39 municípios -, 1 policial para 770 habitantes. Entendeu por que a região é uma das mais violentas do país?
Como a área de segurança, a saúde do futuro estado de Carajás está falida. A região tem o 2º pior índice de mortalidade infantil. Sabe por que as grávidas não fazem o pré-natal? Número de médicos: em Belém existe 1 médico para 314 habitantes. Na região sudeste do Pará, 1 médico para 2.896 habitantes. Veja que absurdo, não existem médicos e muito menos hospitais. Em uma região de mais de 1.500.000 habitantes não temos o curso de medicina.
A criação de novos estados pode ser chamada de distribuição de renda e melhoria na qualidade de vida, podemos pegar os estado do Tocantins como exemplo.
O Tocantins saiu de zero vaga no ensino superior para quase vinte mil, de duzentos quilômetros de asfalto para mais de seis mil. Não existia água tratada hoje tem 100% dos municípios com tratamento. E o melhor de tudo a taxa de pobreza absoluta caiu de 65,3% para 39,6 e vem caindo ano a ano.
Cíntia, o desmembramento não vai fazer bem só ao Pará, os dois estados a serem criados nascem fortes e sustentáveis. Com essa força ajudarão, não só a região norte, mas todo o nosso Brasil.
A exemplo de Tocantins tem também o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul que experimentaram um avanço incomum na direção do progresso e do desenvolvimento, sendo hoje os maiores produtores de gado e soja do Brasil.
Neste caso, com a presença do estado mais próximo, os resultados foram grandes, pois houve rapidez nas tomadas de decisões e estas foram vitais para este progresso e, com certeza, uma distribuição de renda que o resto do país não acompanhou.
Há uns sessenta dias atrás, a presidente Dilma tirou do PAC 2 uma obra essencial para a nossa região e para o Brasil que é a derrocagem do rio Tocantins, rio que você conhece muito bem.
Obra que vai dar viabilidade a hidrovia Araguaia/ Tocantins, hidrovia que vai ser, na minha opinião, a maior obra de logística do Brasil. Em 2000, o então governador do Mato Grosso, Blairo Magi, esteve em Marabá fazendo um estudo de viabilidade e este estudo dizia que o escoamento da produção do Brasil central, ou seja, a exportação de carne bovina e grãos principalmente de soja teriam uma diminuição de 8.000 km em relação ao porto de Paranaguá, no Paraná, e um custo 40% menor de transporte, ou seja, um custo final competitivo.
Veja o cúmulo do absurdo: ano passado teve enchente na cidade de São Paulo. Rapidamente, colocaram, aos 45 do segundo tempo, uma emenda para fazer a drenagem do Rio Tiete com um valor muito próximo ao valor da derrocagem do Tocantins. E, pasme!!! Não foi tirado esse projeto do PAC2. Por que? Porque São Paulo tem forca política com 70 deputados federais.
Cintia, sabe qual foi o único passo dado para reverter essa situação? A Associação Comercial de Marabá, com o Ítalo à frente e alguns empresários, entre eles o teu pai, chamaram o governador do Pará (repito chamaram. No caso teriam que ser chamados) e foram à Brasília conversar com o Ministro dos Transportes. Até agora, sem resultados.
É por essas e por outras que sou a favor dos estados de Carajás e do Tapajós, espero ter ajudado você a clarear suas idéias a respeito do assunto.
1 abraço
Walmor Costa.